Resgatando alguns trabalhos mais antigos que fiz para trazer aqui pro blog, me deparei com as fotos inspiradas no clássico “What Ever Happened To Baby Jane?”. O filme é um drama/suspense estrelado por ninguém menos que Bette Davis e Joan Crawford, dois dos maiores nomes da Hollywood Clássica.

O que tornou “Baby Jane” tão comentado na época foi justamente a união das duas atrizes para a produção, já que elas mantinham uma famosa rivalidade fora das telas. Mesmo com tanta especulação sobre os bastidores, o filme se tornou um clássico e conseguiu cinco indicações ao Oscar daquele ano, vencendo por Melhor Figurino para um filme em Preto e Branco.

Nesse post vou contar sobre meu processo criativo, falar um pouco sobre “Baby Jane” e sobre “Feud“, livro e série de televisão que fala exclusivamente sobre a rivalidade das atrizes.

The Divine Feud

Tudo começou quando comecei a ler o livro “Bette & Joan: The Divine Feud“, escrito por Shaun Considine e publicado em 1989 (uma das leituras mais deliciosas e divertidas dos últimos tempos), onde o autor discorre em detalhes a vida das duas divas Hoollywoodianas até chegar a suposta briga, que se estendeu até o fim da vida de ambas.

O livro foi trazido para a televisão em 2017 pelas mãos do diretor camp Ryan Murphy, que soube como ninguém captar o glamour e o drama da época, trazendo detalhes divertidos que fazem os fãs das duas atrizes se deleitarem com a adaptação. Na série, Crawford é interpretada por Jessica Lange (você consegue imaginar uma escolha melhor?) e Davis por Susan Sarandon (eu sou uma grande admiradora de Davis, e mesmo achando que Sarandon não tenha ficado especificamente “parecida”, eu amei sua atuação).

“Feud” mostra as atrizes em decadência, quando já estavam velhas demais para serem as queridinhas dos estúdios, e o momento exato em que os caminhos delas se cruzam por causa de “Baby Jane“. Na série, acompanhamos tudo o que acontece nos bastidores do filme, até chegar a premiação do Oscar.

São muitas as histórias dos bastidores de Baby Jane (em especial, adoro lembrar que Davis levou uma máquina de Coca Cola para o estúdio só para cutucar Crawford, que era “Embaixadora da Pepsi” e tentava posar com a bebida em fotos sempre que possível), mas aqui seria impossível lembrar todas. Por isso recomendo que, se não quiserem ler Feud, pelo menos assistam a série. É muito interessante, juro!

Whatever Happenned to Baby Jane?

“O Que Terá Acontecido A Baby Jane?” é um livro lançado por Henry Farrell em 1960, narrando a vida das irmãs Hudson quando já estão velhas.

Baby Jane Hudson foi uma estrela do Vaudeville, mas vê sua fama se apagar conforme os anos se passam, e tem de lidar com o obscurecimento enquanto sua irmã Blanche se transforma numa estrela de Hollywood. Depois de um acidente, passam a viver isoladas em uma mansão e mantêm uma relação doentia de dependência, inveja, rancor e culpa.

Foi Crawford quem viu a oportunidade de voltar às telas com o roteiro, já que mulheres de sua idade raramente conseguiam papéis de destaque. Para adicionar a tensão necessária para as personagens, nada melhor do que duas inimigas reais interpretando papeis tão fortes, correto? Foi aí que surgiu a idéia de trazer Bette Davis, e o resto é história.

O legal é que a versão nacional do livro saiu recentemente pela Editora Darkside, então se você quiser ler essa história aproveite, pois a edição está encantadora!

A maquiagem de Baby Jane

Para compor um look que condissesse com sua personagem, Bette Davis foi ousada e decidiu ela mesma fazer sua produção, já que os maquiadores profissionais estavam com medo de reproduzir suas idéias e serem mandados embora.

Davis se inspirou nas mulheres que via pelo Hollywood Boulevard, muitas vezes velhas atrizes desempregadas, e tentou criar sua própria versão: ela imaginava Jane como “uma pessoa que nunca lavava o rosto e ia adicionando camadas de maquiagem a cada dia”, como ela menciona no livro “This N’ That”.

O rosto lívido de Baby Jane, carregado de pancake branco e pó, lábios vermelhos desenhados, olhos extremamente marcados com lápis preto e sobrancelhas finas trazem um ar cômico e desesperado, de alguém tentando reviver seu auge (este, é claro, já foi há muito tempo).

Quando Farrell a visitou um dia nas gravações, ele disse, impressionado: “Meu deus, você se parece exatamente como eu imaginava Baby Jane”. Davis ficou orgulhosa – e deveria.

You mean all this time we could have been friends?

Como sempre fico quando me apaixono por um tema, não conseguia tirar Baby Jane da cabeça! Histórias decadentes sempre me fascinam, mas devo dizer que Whatever Happened to Baby Jane? jamais teria a mesma força se não fosse pelas mulheres por trás dela. Davis e Crawford foram ícones que sempre me seduziram, em frente às telas, mas com Baby Jane elas me emocionaram de verdade. Não era de se esperar que eu ficasse obcecada e decidisse fazer um tributo à minha maneira.

Para compor a minha versão de Baby Jane, não economizei nos produtos de pele. Procurei deixá-la bem carregada, com esse efeito de pancake, e usando bastante pó branco, para tentar passar esse ar envelhecido e, bem, empoeirado. Usei batom vermelho, deixando os lábios com um formato mais parecido com o utilizado na década de 40 (que eu imagino que é o quando Baby Jane alcançou seu “auge”). Também trouxe o característico coração mais perto da boca, já que meu foco era criar retratos de lábios.

Para recriar as grades da janela, que trazem a idéia do aprisionamento e isolamento que são tão essenciais à obra, meu marido pegou dois pedaços de papel e pintou eles de forma que parecessem madeira (sim, aqui a gente leva o DIY a serio).

E foi assim que surgiram essas fotos! Deixei uma em Preto e Branco, pois foi assim que a película foi feita, mas acho que nesse caso as fotos coloridas passam exatamente o conceito que eu tinha em mente.

O que você achou dessa maquiagem? Já conhecia a historia de Baby Jane? Ou era fã de Bette Davis e Joan Crawford e caiu aqui por acidente?