Rastro de Sangue é um romance policial com tudo o que eu mais amo: uma heroína à frente de sua época apaixonada por ciência forense, um companheiro charmoso e convencido à la Sherlock Holmes, uma viagem desde salões de chá até becos escuros da Londres Vitoriana e o mais famoso de todos os Serial Killers do mundo: Jack, o Estripador. Nesse post você vai me acompanhar em uma viagem há mais de cem anos atrás e alguns milhares de quilômetros de distância, em busca de um dos mais misteriosos assassinos de todos os tempos!

Kerri Maniscalco é a mais nova integrante do time Darklove, a linha editorial da Darkside Books que busca novos nomes femininos da literatura, com seu romance histórico que mescla realidade e fantasia. Esse livro faz parte de uma série onde ela explora personagens memoráveis da Era Vitoriana, como Drácula e Houdini.

Resenha

Audrey Rose Wadsworth usa belos vestidos e sandálias de seda, assim como dolorosos corsets que afinam sua silhueta. Quando sua prima está em casa, Audrey participa de chás da tarde em companhia de outras donzelas inglesas, mas enquanto ergue a delicada xícara de porcelana seu pensamento se perde para onde realmente gostaria de estar: no laboratório de seu tio fazendo uma incisão em Y num cadáver. Quando ninguém está vendo, a jovem realiza autópsias e assiste escondida às aulas de seu tio na Escola Harrow vestida como um garoto, contrariando a vontade de seu pai e todas as expectativas da sociedade.

Quando um assassino brutal começa a atacar mulheres marginalizadas, os estudos secretos de Audrey acabam fazendo com que ela cruze o caminho de Jack, o Estripador, e veja o resultado de sua sede de sangue na mesa de autópsias. Na companhia de Tomas Cresswell, o aprendiz convencido e irritante de seu tio, ela decide seguir seus instintos e os rastros de sangue do notório assassino. Afinal, nenhum homem foi capaz de descobrir sua identidade – esse é um trabalho para uma mulher.

Incisão Preliminar

Audrey Rose é uma heroína moderna e multifacetada. Ela quer estudar, se interessa por ciência e tem que lutar contra a sociedade para ser levada à sério. Seu pai quer à todo custo que ela se encaixe nos moldes da época: submissa e passiva – a mulher de família ideal – e constantemente discute quando ela foge desses padrões. Mas ele não é o único; mesmo tendo a permissão de seu tio para trabalhar no laboratório, Audrey ainda tem que se provar digna perante ele o tempo todo, mesmo sendo mais brilhante que quase todos seus alunos homens. E apesar de seu interesse forense, ela não deixa de apreciar também belos vestidos, sapatos de seda e maquiagem.

“Do que é feita a alma de um homem que não exista na alma de uma mulher?”, provoquei. “Eu não fazia a mínima ideia de que minhas entranhas eram compostas de algodões e gatinhos, enquanto as almas de vocês, homens, são cheias de aço e partes mecânicas.”

Uma das minhas coisas favoritas sobre essa obra foi todo o cuidado com a pesquisa histórica que Maniscalco teve. Quando Audrey menciona serragem no chão da sala de autópsia ou até mesmo a forma que os instrumentos são manuseados eu fiquei muito surpresa pois é algo que eu nunca havia refletido como funcionava, mas que é interessante para comparar como foi a evolução da medicina forense ao longo desse século.

Ah, e apesar de toda essa acuidade histórica, devo alertar os leitores mais fervorosos que Rastro de Sangue é uma obra inteiramente ficcional e não tenta seguir nenhuma das linhas de investigação reais para resolver o mistério de Jack, o Estripador.

A dinâmica Audrey-Tomas também me agradou bastante, afinal, um homem e uma mulher inteligentíssimos e astutos trocando farpas o tempo todo enquanto procuram um assassino é basicamente meu tipo de humor, não resisto à um bom romance policial assim. Tenho que dizer também que o personagem Tomas Cresswell é o sonho realizado de qualquer pessoa que queria um Sherlock Holmes sedutor, nao é mesmo?

Escalpelo e xícaras de chá

Como já era de se esperar, a edição é em capa dura, do jeitinho que a gente ama. A folha de guarda do início exibe um mapa ferroviário de Londres, enquanto a folha da guarda final exibe o mesmo mapa com uma das cartas do Estripador sobreposta. A fita de cetim é na cor vermelha, criando um contraste com os tons de verde da capa e uma referência ao – bem, obviamente – sangue.

As ilustrações e fotografias no início de cada capítulo são maravilhosas e ajudam a dar o tom da história que segue. Sempre fui fascinada por ilustrações anatômicas, então ficava muito feliz ao abrir um capítulo e dar de cara com uma. As fotografias com alguns dos locais mencionados no livro {como o The Princess Alice e a Necrópole} também são muito interessantes e nos deixam ainda mais imersos em seu universo.

As letras capitulares que abrem cada capítulo também chamaram minha atenção; acho esse tipo de decoração gráfica uma delicadeza à parte, e o fato da Darkside ter esse cuidado com a tipografia me enche de orgulho de fazer parte dessa família dark.

Prezado Chefe

Meu livro veio embalado nesse lindo saco de cetim com borlas nas pontas, contendo cartas ilustradas com os principais personagens e uma página de jornal “The Dark News“, com uma entrevista com a autora Kerri Maniscalco. Amei as ilustrações das cartas, especialmente para me ajudar a dar um rosto à cada personagem. Os detalhes anatômicos sutilmente intercalados em cada figura também são um charme em particular.

Como você já deve saber, eu sou obcecada por True Crime, e tudo isso começou há mais de uma década quando conheci Jack, o Estripador. Ele foi o primeiro Serial Killer que me “afetou” e me deixou louca pelo assunto, ao ponto de procurar livros, teorias, fotografias e o que mais pudesse encontrar sobre o caso. Justamente por isso fiquei mega entusiasmada quando recebi essa obra e terminei ela em praticamente um dia! Como estou acostumada com o assunto não achei nada muito “forte”, mas creio que esse é o tipo de livro que conquista e atrai jovens leitores, como o próprio James Patterson diz em sua introdução. Acho isso ótimo – adoro que cada vez mais pessoas se interessem por livros!

Aliás, ainda falando sobre o Estripador, nesse post eu coloquei algumas imagens de um trabalho de faculdade – a carta escrita e a foto de Whitechapel – que fiz sobre ele {eu fiz Desenho de Moda, imagine o tamanho da minha obsessão haha} e esse livro só reviveu minha vontade de falar mais sobre o assunto, então fique preparado pois vou preparar mais posts sobre o Jack sim.

E você, o que achou de Rastro de Sangue? Já conhecia bem o caso do Jack, o Estripador? Ficou curioso?

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