Resenha • H. P. Lovecraft: Medo Clássico
Era o fim de um dia quente de verão, há mais de treze anos. Lembro de uma pessoa deitada em minha cama, com certo livro emprestado da biblioteca em mãos, enquanto aproveitava os últimos raios de sol da tarde para terminar esta leitura. Ela tinha meu rosto, só que eu não estava lá; naquele momento eu estava aterrorizada na casa de Keziah Mason, em Arkham. Sentia cada batida do meu coração enquanto olhava os ângulos do quarto – sim, os ângulos! Ouvia desesperada os passos acima de mim – passos que não deveriam estar ali; com a luz violeta que surgiu bruscamente, o tremor de minhas mão foi espontâneo! E foi dessa maneira, com um terror que até então nunca tinha sentido através de tinta e papel, que o conheci.
Medo. Do alto dos meus 14 anos de idade, eu não tinha idéia de que era possível sentir medo com um livro. Não poderia começar a falar sobre essa edição estonteante sem explicar para você o impacto e a importância que Lovecraft teve na minha vida. Desde que a Darkside Books anunciou esse lançamento eu quase chorei de emoção, pois nada pra mim representa o terror como ele! Nesse post eu vou dar um gostinho desse livro fantástico, para viajarmos nesse cosmo aterrorizante juntos.
Confesso que demorei muito pra escrever essa resenha porque estava simplesmente apavorada. H. P. Lovecraft é, juntamente com Poe, um dos dois escritores mais importantes da minha vida, e só de pensar que teria que escrever sobre ele aqui no blog fiquei mais paralisada do que ao ler um de seus contos, pois me sinto menor que uma amebinha para analisar qualquer coisa dele. Por favor, levem isso em consideração ao ler esse post, rs.
Introdução ao Cosmo
Sempre fui apaixonada por livros de suspense e de terror, mas até aquele verão de 2004 nada nunca havia me assustado de verdade. Creio que foi em algum fórum online que ouvi falar sobre Lovecraft pela primeira vez; como era adolescente e não tinha dinheiro algum, minha única opção para encontrar qualquer livro de sua autoria era a biblioteca, que eu já conhecia bem. Por sorte encontrei um exemplar e levei pra casa, e em pouco tempo a história que você leu no primeiro parágrafo aconteceu.
Eu fiquei congelada de medo, lembro disso especificamente pois fazia um calor absurdo e nenhuma palavra me descreveria melhor que “congelada” – que ironia, não? Logo eu, que nunca tive medo de bruxas… Infelizmente o conto que abriu as portas para o Universo Lovecraftniano para mim {Sonhos na Casa das Bruxas} não está nesse volume da Darkside Books, mas com certeza estará nos próximos, que definitivamente farão parte da minha estante.
Terror Cósmico
Lovecraft revolucionou o gênero do horror ao adicionar elementos da ficção científica e da fantasia às suas obras. Seu principal objetivo é inquietar o leitor: o personagem principal geralmente encontra-se em um ambiente inóspito e cheio de criaturas misteriosas, até que percebe que o ser humano nada mais é do que um ser irrelevante para o restante do Universo. Essa filosofia literária recebe o nome de Cosmicismo ou Terror Cósmico.
Uma de suas características literárias mais notáveis é o uso constante de arcaísmos: às vezes é difícil lembrar que suas histórias datam do início do século XX e não de pelo menos um século antes! O exagero nas descrições e o vocabulário antiquado em contraste com os seres inomináveis de outros mundos trazem essa atmosfera única ao trabalho de Lovecraft.
Esse excesso de adjetivos faz com que os itens em questão fiquem ainda mais misteriosos – são tantas as características que por fim não conseguimos nem imaginar o que está sendo descrito. Por exemplo, esse trecho de Randolph Carter mostra bem isso: “a voz era grave; oca; gelatinosa; remota; sobrenatural, inumana; desencarnada” – os adjetivos estão aí, aos montes, mas você consegue idealizar essa voz? Difícil, não?
Atualmente, Lovecraft é reconhecido como uma das maiores influências do terror na Cultura Pop, tendo inspirado literatura, quadrinhos, cinema, música e até mesmo jogos. Seu panteão de monstros e o Necronomicon {que várias pessoas acreditam ser real até hoje} são ícones, adorados e referenciados normalmente por todos os admiradores de sua obra. Para ter uma idéia da extensão de sua importância, um dos anexos no final do livro cita alguns exemplos de artistas que foram inspirados por seu trabalho – e não são poucos, viu?
Miskatonik Edition
As duas edições da Darkside Books são: Miskatonik Edition e Cosmic Edition. Obviamente peguei a Miskatonik Edition, que tem esse nome inspirado na Universidade Miskatonik, uma universidade fictícia do Universo Lovecraftniano. O conteúdo das duas edições é o mesmo, o que muda é a capa, a folha de guarda e a cor do corte e do fitilho. Essa edição é, na minha opinião, uma das mais lindas que a Darkside já lançou {não é minha culpa que eles se superam a cada lançamento e eu repito isso sempre, ok?}. Eu juro que tentei me conter com a quantidade de fotos mas não consegui, tive que mostrar todos os detalhes aqui no post!
A arte da capa é maravilhosa, com uma imagem do busto de Lovecraft envolto por Cthulhu e possui detalhes em baixo relexo. Já as ilustrações presentes no início de cada conto são simplesmente sublimes – parecem ter saído diretamente do Necronomicon, mas na verdade são criações do artista brasileiro Walter Pax.
Outra coisa que amei foi que nos anexos finais tem algumas anotações raras e inéditas! Manuscritos datilografados, cartas de Lovecraft escritas à mão, rascunhos; tudo isso dá um lampejo da mente desse Mestre do Horror! Não sei vocês, mas eu amo ver essas coisas! Aliás, nesse pacotinho da Darkside para os parceiros veio esse envelope lindo com um selo de cera da Caveirinha contendo um fac-símile da História do Necronomicon. Amei muito o detalhe, vou guardar com todo o carinho desse cosmo {e de todos mais que existirem}.
Uma novidade super legal que veio com essa edição é que agora a DarkSide tem um app de Realidade Aumentada para iOS e Android, que faz tanto a Cosmic quanto a Miskatonik Edition ganharem vida. Baixe o app no seu celular para ter o seu próprio portal – só tenha muito cuidado com as criaturas que podem sair de lá, ok?
I Am Providence
Não conhecia todos os contos presentes nessa edição, então fiquei maravilhada com a seleção. As histórias presentes nesse volume são:
- Dagon
- A Cidade Sem Nome
- Herbert West: Reanimator
- O Depoimento de Randolph Carter
- O Cão de Caça
- O Chamado de Cthulhu
- Nas Montanhas da Loucura
- A Sombra Vinda do Tempo
- A História Do Necronomicon
Os meus favoritos são Herbert West, Dagon, Randolph Carter e O Chamado de Cthulhu. Na verdade eu amei todos, só tem um que eu realmente não consigo gostar: Nas Montanhas da Loucura. Podem me apedrejar agora.
Eu praticamente li o livro todo em um dia, mas fiquei semanas empacada no “Montanhas“. Todos meus amigos amam esse conto de paixão, quando peguei o livro a primeira pergunta que me fizeram foi “Tem esse conto, né?”, mas eu acho ele maçante demais. O começo dele eu acho sensacional, mas depois de algumas página acabo me perdendo em meio aos termos técnicos e não consigo mais me prender à história. Já tinha lido ele anos atrás e tentei reler novamente, para ver se agora eu iria gostar mais e: não gostei. Por favor, não me expulsem do clubinho!
Amo Herbert West pela referência óbvia ao Frankenstein de Mary Shelly, que é um dos meus livros favoritos da vida, mas Herbert West ganha no sentido de “Ih, agora sim vai dar ruim” – aliás, isso é uma coisa que eu amo em todos os contos dele. Enquanto a história vai se desenvolvendo eu fico desesperada junto com os personagens, eu quero gritar “Olhaí, tá fazendo merda, meu deeeus, para de fazer merda, você é burro? Perdeu o amor à vida, caralho?” literalmente o tempo to-di-nho! Viu, eu não estava brincando quando disse que ele mexe comigo de verdade!
Não posso deixar de falar aqui de outro lançamento lindo da Darkside, O Fantástico Alfabeto Lovecraft! Falei tudo nesse post, então podem conferir aqui. Imaginem todo esse Universo Lovecraftniano explicado e ilustrado para crianças, que coisa mais maravilhosa? Eu quase morri do coração quando peguei esse livro e tenho certeza que você também vai amar.
Espero que com esse post eu tenha feito jus ao mestre e que você tenha se interessado mais por ele. Já conhecia esses contos do livro? Qual seu favorito?
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Rômulo de Souza Mancin
16 de março de 2018 at 12:23 PMEu sei que eu sempre falo isso, mas é a pura verdade. A forma como escreveu o post só atiçou minha curiosidade de ler, gosto que não deu detalhes sobre os contos. Por que eu odeio spoiler. =D
E eu adorei as fotos.
Marcela Suhr Dake
10 de abril de 2018 at 9:46 PMEu quero tanto que você leia logo! Você vai amar! ♥
Aline
18 de março de 2018 at 1:44 AMEU NÃO SEI NEM POR ONDE COMEÇAR A COMENTAR. Mesmo já tendo falado um monte com você sobre esse post e esse livro. Mas vamo lá.
Mesmo também tendo gostado da Cosmic Edition, a Miskatonic também foi minha escolha óbvia pra esse livro, e suas fotos transmitem como essa edição é a coisa mais linda e caprichada do mundo. Eu espero muito que eles mantenham as ilustrações nos próximos volumes, pois isso também foi uma das minhas coisas preferidas nesse livro.
Eu ainda não terminei de ler o meu porque cheguei naquele ponto em que a gente começa a economizar o livro pra ele não acabar, sabe? Tô nesse momento em O Chamado de Cthulhu, e me pergunto se algum dia não vou considerar esse conto uma das coisas mais perfeitamente escritas que já li. Dos que já tinha lido que estão nesse volume, Dagon segue sendo um dos meus preferidos. Também amei Reanimator, e O Cão de Caça é incrível – saber que foi inspirado por Sherlock Holmes foi a cereja do bolo, haha.
Vou ter que me segurar quando for escrever sobre esse livro e sobre o Lovecraft, ando tão obcecada que acho que um post só não vai ser suficiente, hahaha. Amei o apanhado que você fez sobre ele no seu post, e tenho certeza que muita gente vai correr atrás de conhecer o trabalho dele pelo seu post incrivel. <3
Marcela Suhr Dake
10 de abril de 2018 at 9:49 PMNão tinha como a gente não escolher a Miskatonik né? Nossa cara! Realmente amei as ilustrações, quero muito que continuem com elas também.
Quero muito ler o que você falaria sobre esse livro, a gente já conversou várias coisas mas mesmo assim um post sempre é legal né? ♥
Muito obrigada meu amor. ♥
Rafaela Ivo
19 de março de 2018 at 3:08 PMAi caralhooooooo, que edição mais maravilhosa!
A DarkSide Books nunca deixa de surpreender, né? E ainda mais com Lovecraft, que é um gênio, meu amorzinho de escritor! E essa sensação de ficar com medo ao ler é muito louca, né? Até ler Poe ou Lovecraft eu nem sabia que dava pra ficar com medo só pela descrição de um lugar ou um monstro. Tua resenha tá excelente, assim como tuas fotos. Ficou bom porque tu mostrou bem como é o livro, dá mais vontade ainda de ter! O Chamado de Cthulhu é sensacional, eu acabei descobrindo Lovecraft por causa desse conto. E por causa do Metallica… USHDUHSADHASUHDUH
Teu post tá maravilhoso! Beijão!
Marcela Suhr Dake
10 de abril de 2018 at 9:50 PMEssa edição é linda demais né?
Não é à toa que eles são os mestres mesmo, ninguém supera eles nessa questão! Adoro cada conto, me arrepio inteira.
Muito obrigada, querida. ♥
Nana
19 de junho de 2018 at 4:07 PMTambém amo de paixão Lovecraft e essa edição é realmente sensacional. Tenho um chamado “Os melhores contos de H.P. Lovecraft” da editora Hedra, que acho que tem mais contos que nesse da Darkside, mas os cuidados deles são tão amor que não vou resistir :’) eu acho O conto de Cthulhu super estimado *levando pedradas* embora também seja muito bom, meu preferido sempre vai ser “A música de Erich Zann”. Já falei que amo suas fotos? Adorei o post! <3
Marcela Suhr Dake
15 de agosto de 2018 at 9:11 PMAcho que Poe e Lovecraft são autores que eu vou ter mil edições e nunca vou parar de comprar, pq não resisto nunca! Nossa não me lembro de ter lido esse conto que você gosta, vou ter que dar uma procurada, fiquei curiosa. Eu gosto do Cthulhu, mas também confesso que ainda prefiro outros dele haha.
Muito obrigada lindona! ♥